AINDA ESTOU AQUI
– O CORDEL DA RESISTÊNCIA
Ricardo Bernardes
No tempo da escuridão,
Do medo e da opressão,
Quem falava o que sentia
Sofria a perseguição.
Era um tempo de açoite,
De tortura e repressão.
No meio dessa tormenta,
Surge um nome a recordar,
Rubens Paiva, um deputado,
Que sonhava em transformar
O Brasil num chão mais justo,
Sem ter medo de lutar.
Mas a farda, sem piedade,
O arrancou sem aviso,
Numa noite tão sombria,
Sem deixar rastro ou vestígio.
Sua voz foi silenciada
Pela fúria do castigo.
Eunice, a esposa forte,
Ficou só com seus meninos,
Sem resposta, sem aceno,
Sem um norte no destino.
Mas jurou, naquele dia,
Que lutava até o fim.
Bateu porta, escreveu carta,
Foi à busca da verdade,
Enfrentou os generais,
Combateu a crueldade.
E seu grito ressoava:
“Não há paz sem liberdade!”
Mas Eunice não lutava
Só por seu amor perdido,
Defendeu os indígenas,
Seu direitos tão feridos.
Contra a mão que os expulsava,
Ergueu voz, braço e sentido.
No sertão e na floresta,
Fez soar sua razão,
Protegeu os esquecidos
Que sofriam opressão.
Com coragem e resistência,
Fez-se luta, fez-se ação.
Mas o tempo, tão cruel,
Foi lhe apagando a mente,
Eunice, em sua batalha,
Viu-se frágil, de repente.
O passado ia sumindo,
Mas seguia persistente.
Seu amor por Rubens Paiva
Nem o tempo consumiu,
Seu olhar, já tão distante,
Nunca dele se partiu.
Mesmo quando a voz calava,
Ela sempre repetiu:
“Rubens vive na memória,
Ninguém pode o apagar,
Ele foi, mas eu resisto,
Sua história vou contar.”
E assim, mesmo silente,
Continuava a lutar.
Muitos anos se passaram,
Mas o dia então chegou,
A verdade foi exposta,
O Brasil não esqueceu.
Eunice e sua coragem
O cinema reviveu.
Nosso povo celebrou
Quando a tela iluminou,
O cinema brasileiro
Se fortaleceu, brilhou.
Com o Oscar em nossas mãos,
Nossa voz se eternizou.
É vitória da lembrança,
Da justiça e da nação,
Reafirma a democracia,
Dá mais força à criação.
Nossa arte é resistência,
Nosso sonho, revolução.
Hoje a casa é um museu,
Para o mundo recordar,
Cada canto, cada sombra,
Tem história pra contar.
Que o Brasil jamais esqueça,
