‘AÇÃO TÍPICA DE MAFIOSOS’, DIZ SECRETÁRIO NACIONAL DE SEGURANÇA SOBRE EXECUÇÃO DE DELATOR DO PCC NO AEROPORTO DE GUARULHOS
“Não se trata mais aqui no Brasil de crime organizado. Nós estamos em um estágio acima”, afirma Mario Luiz Sarrubbo
No Fórum Brasil, realizado nesta quarta-feira (13) em Brasília, Mario Luiz Sarrubbo, secretário nacional de Segurança Pública, comentou sobre o assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, de 38 anos, executado a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Sarrubbo classificou o crime como uma “ação típica de mafiosos” e reforçou a necessidade de mais ações de inteligência e controle contra a atuação das ‘máfias brasileiras’. O empresário, que atuava como delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), já havia denunciado um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo policiais de São Paulo e membros da facção.
“Foi realmente um evento lamentável, triste, que expõe o Brasil, na medida em que acontece de uma forma muito ousada, em um dos maiores aeroportos da América Latina, com muitas pessoas expostas ali a disparos de armas de fogo”, lamentou o secretário. Segundo ele, a execução reforça a existência de um novo nível de organização e poderio das facções criminosas. “Estamos no caminho correto, porque já temos diagnóstico de que não se trata mais aqui no Brasil de crime organizado. Nós estamos em um estágio acima. A atividade desta sexta-feira foi uma atividade típica de mafiosos, de vingança, de ‘queima de arquivo’, porque ele já estava em processo de delação”, completou Sarrubbo.
O empresário Antônio Gritzbach foi alvejado por dez tiros enquanto desembarcava em Guarulhos, após uma viagem a Maceió. Testemunhas relataram que dois homens encapuzados, portando fuzis, atacaram Gritzbach assim que ele deixou o saguão do aeroporto, e fugiram em um veículo Gol preto que foi abandonado nas imediações do local. O ataque também deixou feridos um motorista de aplicativo e outras duas pessoas, que foram encaminhadas ao Hospital Geral de Guarulhos.
Um alvo da facção – Gritzbach havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado), entregando detalhes sobre um esquema milionário de lavagem de dinheiro, que incluía imóveis de luxo e supostos negócios com narcotraficantes do PCC. Além disso, o empresário relatou à promotoria a participação de agentes de segurança pública no esquema, acusando policiais civis de extorsão e desvio de bens pessoais, como relógios de luxo, durante sua prisão.
Conforme o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, responsável por ouvir os depoimentos de Gritzbach, o empresário tinha uma relação próxima com lideranças do PCC e enriqueceu lavando dinheiro para a facção, especialmente em transações de imóveis na capital paulista.
Ousadia criminosa e poder de infiltração – Apesar de temer por sua vida e pedir proteção ao Ministério Público, Gritzbach recusou integrar o programa de proteção a testemunhas. Em vez disso, contratou uma escolta particular formada por policiais militares da ativa. No dia do crime, porém, a segurança não conseguiu impedir o ataque letal. Relatos indicam que um dos veículos da escolta, uma Amarok, apresentou suposta falha mecânica antes de acessar o desembarque, um ponto que está sendo investigado pela Polícia Civil para verificar possível envolvimento de terceiros no atentado.
Sarrubbo enfatizou o grau de sofisticação dos criminosos, que executaram a ação em plena área pública e em uma das maiores portas de entrada do país, mesmo com presença de câmeras e seguranças. Segundo ele, a execução reforça a necessidade de um combate articulado e em rede para enfrentar o poder de infiltração dessas facções. “Nós estamos fomentando o trabalho em rede de todas as agências de segurança pública do Brasil. Temos uma rede que iniciou seus trabalhos a partir da Senasp, conversando com todas as unidades de Polícias Civil e Militar, de Ministérios Públicos, de Gaecos, da Polícia Federal, especificamente criando sinergia e procurando um trabalho integrado”, explicou o secretário durante o evento promovido pelo Brasil 247, em parceria com o LIDE.
Um esquema de vingança e retaliação – Gritzbach era considerado um personagem-chave no esquema de lavagem de dinheiro do PCC e foi acusado de orquestrar a morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, figura importante da facção. Após a morte de Santa Fausta e seu motorista, Gritzbach passou a receber ameaças, sendo alvo de um atentado em 2023. Em entrevista anterior, ele negou qualquer envolvimento com o crime organizado, afirmando que seus negócios eram legais e que ele teria caído “sem saber” em meio ao mundo do tráfico.
O caso evidencia o aumento do poder de violência e o alcance da influência do crime organizado em diferentes esferas, da segurança pública ao setor imobiliário. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo anunciou que irá acompanhar de perto a investigação do caso. O Ministério Público também reforçou que pretende buscar punição rigorosa para todos os envolvidos no assassinato do delator.
Por Brasil 247